segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Um samba, morena, de deixar a perna bamba

Nesse último domingo (09), aconteceu a segunda edição do Casarau, projeto intimista que reune artistas locais com o público

Por Mariana Kaoos


PC Lima/ Foto: Divulgação
Começo de noite. O calor era tamanho em todo o ambiente. Apenas uma mesa no canto da sala. Em cima dela, pandeiros e caxixis. Ao lado, pessoas em pé, bebendo, sambando, sorrindo. Algumas fumavam. A fumaça que saia de suas bocas entrava em contraste com a luz branca, vinda de traz do palco improvisado. Mais ao lado, um armário, impedindo a entrada à cozinha. Naquele dia, era exatamente dali que saiam os pedidos de campari, gim com tônica, cerveja e feijoada. 

Sentada em uma das três cadeiras disponíveis na mesa do canto, eu olhava para o palco através da tela da máquina digital que uma amiga segurava ao meu lado. Quanto mais ela mexia nas opções de luz, contraste, brilho, cor, mais o cenário se alterava, modificando as sensações causadas pelo momento. As sensações, não a mensagem. A mensagem continuava precisa e voraz, ecoando por todos os cantos da casa. 

Captando fragmentos daquele instante, no visor da máquina apareciam Jeh Oliveira, Eduh Vasconcelos, Pc lLima e Marlua, todos músicos da noite conquistense. Da composição do cajón, violão, gaita e da voz arranhada de Marlua, saiu um “Negro Gato” mais malandro que o de Melodia, mais sensual do que o de Marisa. Entre um miado e outro, o público se deliciava com a versão em blues, que causava algumas danças desritmadas e olhares de interesse. 

Marlua, em vão, tentava agradecer a presença de todos e finalizar as apresentações daquele dia. O público, ainda querendo samba, ainda querendo som, não deixou isso acontecer. Pegando o violão das mãos de Jeh Oliveira, Fernanda Conegundes, uma das mais novas cantoras no cenário musical da cidade, ajeitou o microfone e, pedindo o auxílio de um pandeiro, começou a tocar Cabide, de Mart'nália. A noite, por enquanto, ainda estava salva.

O Casarau

Banda Fulô do Cangaço/ Foto: Divulgação
Na Rua da Conquista, próxima ao centro da cidade, moram dois grandes músicos do atual cenário cultural conquistense. Além deles, o local sempre está repleto de outros artistas, jornalistas, atores, cantores, fotógrafos, que produzem, consomem e pensam a cultura da cidade. Partindo da necessidade de se criar um espaço onde eles possam mostrar seu trabalho ao público foi que Marlua e Fillipe Sampaio construíram a idéia do Casarau, lá mesmo, na casa deles.

O projeto ocorre aos domingos, dia em que a cidade não oferece muitas opções culturais, sempre a partir das 13 horas.  Com o intuito de juntar a classe artística “que está meio espalhada, além de, muitas vezes, tem preconceito com a própria classe”, o evento vem reunindo os mais diversos tipos de pessoas. 

Inicialmente, o primeiro Casarau, ocorrido no dia 11 de novembro, tinha como meta divulgar sua própria ideia e concepção, além dos artistas. Ele foi mais além. O público pôde interagir, enviando poemas através das redes sociais. O músico Diego Oliveira, fez um pocket show com seu projeto Benjamin, os poetas Charles Ribeiro e Caio Resende recitaram poemas autorais e Diego Costa também cantou algumas bossas. Nessa primeira edição, chovia, mas de acordo com Marlua, “pareceu que depois da chuva estávamos de alma lavada para receber as coisas boas que o Casarau proporcionou naquele dia”.

Já o segundo Casarau, ocorrido nesse ultimo domingo (09 de dezembro) homenageou o samba (dia 2 de dezembro é comemorado o dia do samba). Contando com a presença de inúmeros músicos como as meninas da Fulô do Cangaço e David Maximus, o domingo ensolarado foi regado à feijoada e muita cerveja.  Cartola, Clara Nunes, Vinícius de Moraes, Só Pra Contrariar, Zeca Pagodinho, foram alguns nomes que ganharam releituras de suas músicas na tarde de domingo. 

“Ponha um pouco de amor numa cadência e vai ver que ninguém no mundo vence a beleza que tem um samba não...”
Palco improvisado no Casarau/ Foto: Divulgação
Uma das coisas que mais me chamam a atenção na capital baiana é a maneira como a junção de samba, calor e cerveja proporciona momentos de muita alegria e exaltação e como isso, dificilmente, é encontrado de forma tão intensa em outra cidade que não Salvador. Durante as minhas temporadas no litoral, lugares como a Casa da Mãe, Tarrafa, Botequim São Jorge, Praça Tereza Batista e os sambas do Santo Antônio sempre foram cenários que embalaram momentos de sorrisos e suor. 

Em Vitória da Conquista muito samba de qualidade é produzido. Nos bares, nas noites conquistenses, é possível ouvir horas a fio inúmeras versões de músicas já consagradas, como também trabalhos autorais perspicazes e concretos. Mas, por mais que algumas pessoas, timidamente, se levantem para dançar, e por mais que haja cerveja e em alguns momentos até calor, sempre faltou espaço e iniciativas para o samba e todos os outros ritmos, saírem do estilo musical e dos microfones para se manifestarem nos pés e gingados alheios.

A energia, a maneira como essa segunda edição do projeto se deu (infelizmente não pude conferir a primeira) veio de maneira linda e inovadora para a cidade. Pela primeira vez eu presenciei essas interações acontecerem e a força do som se estender até os corpos presentes. Propostas como essa, que tira a frieza dos bares para oferecer "calor, fervor, fervura" estão começando a brotar de uma classe de artistas, foliões, pensadores, boêmios que enxergam e querem mais além do que os programas batidos e medíocres (em sua maioria) que acontecem na cidade. Além da feijoada “de responsa”, da cerveja gelada e do repertório de qualidade, o Casarau trouxe a paixão para diante dos meus olhos, para os meus pés, para os meus lábios. Aquele instante preciso em que a gente sorri e não quer mais nada além de todas aquelas sensações causadas pelo momento. Como diz Zeca Baleiro, "o melhor da vida é isso e ócio".

Para mais informações, acesse o site: http://ocasarau.wix.com/site

2 comentários:

  1. haha.. gostei demais... obrigada meus amores... terá o casarau de natal hein.. dia 25!!!
    P.S.: Adorei o título!! hhe

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  2. Massa demais Rebuceteiros!!! Dia 25 esperamos todos vcs aqui no CASARAU DE NATAL

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