domingo, 2 de setembro de 2012

O Rebucetê Entrevista: Carlos Betão

Por Jéssica Lemos

Foto: Larissa Cunha
Para dar início a nossa passagem pelo FILTE - Festival Latino Americano de Teatro, O Rebucetê foi até o Teatro Xisto Bahia, conferir a peça "Sargento Getúlio". Duas horas antes do espetáculo, tivemos uma conversa com o ator Carlos Betão, que com 35 anos de carreira contou sobre a construção do seu personagem "Getúlio", seu primeiro monólogo e além disso, falou sobre a sua participação na novela da Rede Globo “Gabriela” e um pouco sobre seus ideais de democracia ou não democracia no teatro.

No camarim do teatro tivemos uma longa conversa, que não detalharei convencionalmente aqui como uma entrevista "ping pong" com perguntas e respostas. Nos primeiros minutos percebi que meu gravador estava com a memória cheia e para não cortar o clima descontraído, resolvi largar os aparatos tecnológicos. Foi então que o ator se revelou longe de qualquer gravação, tínhamos apenas um caderninho e uma caneta. Participar da novela "Gabriela" foi uma honra para Betão, pois ele viveu na região onde a trama se passa durante muitos anos de sua vida. Do seu personagem na novela ele conseguiu tirar muita coisa que o ajudasse na construção de "Sargento Getúlio".

Conversamos muito sobre os preços do teatro. Carlos Betão não julga o teatro que cobra ingressos caros, pois teatro é uma arte cara, o figurino, o cenário, a equipe e até aquela fumaça branca que sobe no meio da peça, é muito caro. Para ele, o que falta na Bahia é uma política cultural reforçada, os projetos não suprem as reais necessidades. R$ 10.000 para um espetáculo é pouco e esses incentivos quase não chegam no interior. Ele afirmou que “Você quer casa lotada, então você vende até a alma”. O cenotécnico pediu para se intrometer na conversa e disse “não dá pra viver de teatro em Salvador, meus amigos que trabalham com cenário em São Paulo tão vivendo bem, e eu to aqui pensando em largar a profissão”. 

Foto: Larissa Cunha
Betão ousou ainda a questionar a democratização da cultura, porque quando você paga meia entrada no transporte coletivo, o governo subsidia a outra parte e no teatro não, você cobra meia entrada do estudante e o governo não supre a outra parte. “É pedir esmola com o chapéu do outro” afirmou Gil Vicente, diretor do espetáculo, que também entrou na conversa de forma instigante. O ator fez uma crítica à atual Ministra da Cultura: “Qual o projeto que essa moça fez?", questionou ele. Assim como o ator Carlos Betão, o diretor Márcio Meireles também defende em qualquer lugar a idéia de que não é barateando o teatro que você vai dar acesso e inclusão a massa, pois quando as peças estão a preços populares, o público que mais participa são os universitários e professores de classe média. Isso foi comprovado por uma pesquisa feita durante o projeto "Verão Cênico", em que as peças estavam a R$ 1,00 e a chamada “massa” não participou, então essa não é a melhor forma de se formar platéia.

Foto: Vinícius Carvalho
Quando disse à Carlos Betão a antiga frase de Nero, “a massa precisa de pão e circo”, perguntei até que ponto isso prevalece hoje. Foi aí que o ator se debruçou sobre política: “A política do PT está mais preocupada com a inclusão, não é que o gueto não precise ter grana de cultura, tem que pegar esses meninos e fazer um projeto de afirmação, como acontece no Rio de Janeiro, instrumentalizá-los. Mas político não gosta de teatro, porque no teatro você esta diante de si mesmo, a arte foi feita para sacudir, observe uma cidade que não tem teatro, as pessoas são diferentes”.

Encerramos então nossa entrevista com um abraço e fui para o foyer esperar a hora de assistir a peça. Eu nem imaginava que assistiria um dos melhores monólogos de minha pequena andança teatral. Vi mais de cinco personagens em um único homem, que transformou 60 minutos de espetáculo em uma viajem de Paulo Afonso- BA até Aracajú- SE.

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