domingo, 9 de setembro de 2012

Fragmentos grapiúnas*

Por Mariana Kaoos


Nasci em Itabuna e morei em Ilhéus até os 13 anos, idade em que, além de me ver adolescendo, fui morar em Vitória da Conquista, por conta do ingresso de meu pai como professor de jornalismo na Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia.

Surfista de longa data, poeta de mesa de bar, durante toda a minha juventude, vi meu pai arrumando a mochila às sextas-feiras, com olhos brilhando, pronto para passar o fim de semana em terras ilheenses. Por muito tempo eu olhava, olhava e não entendia o porquê dessa paixão por algo que, à minha vista, era incolor e inodoro. Só hoje, aos 22 anos, as terras grapiúnas se revelam de maneira encantadora e misteriosa para mim. A cada vez que vou a esse lugar, o vento, as formas de Iemanjá, as cores da Catedral tomam sentido em meu coração.

E é justamente pensando nisso é que resolvi indicar algumas coisas muito particulares e bonitas que compõem essa região:

- Avalon é na Bahia: No livro As Brumas de Avalon, a autora Marion Zimer Bradley, faz uma descrição dos caminhos que levam à ilha sagrada. Ela afirma que esse caminho não pode ser visto por qualquer um, apenas pelos iniciados.  No romance, o local é descrito como um rio contendo um seminário católico à sua margem direita e uma curvatura nas águas, que é aonde vai dar as margens de entrada da ilha. Na saída de Ilhéus, na ponte sobre o braço do rio cachoeira, para quem olha para o lado direito, há um seminário de formação de padres logo acima, e a curvatura do rio. Geralmente sempre há algum pescador, em pé, numa canoa. No livro é esse mesmo ‘personagem” quem faz a travessia. Todas as vezes que passo por ali, e me engrandeço com a vista, tenho mais certeza de que o misticismo, as sacerdotisas e todas aquelas histórias vieram se perder  na Bahia. Para quem consegue vê, Avalon é aqui.

- Bolinho de bacalhau e cerveja gelada: No centro da cidade de Ilhéus, há um bar que reúne os maiores artistas da região. A poesia, que se encontra nas mesas, também é vista nos banheiros, todo decorado com poemas de Fernando Pessoa, dentre outros. O chefe da casa é Bruno e o bar é a Barrakítica, que vende bolinhos de bacalhau (R$3,50) e cerveja gelada como ninguém.  A Barrakítica também conta com uma série de garçons educadíssimos, pronto para atender a todo mundo.  Dentre eles, o queridinho e fotógrafo da galera é Quiquito. Quando chama-lo, favor gritar bastante, que ele vem de lá sorrindo.

- Cevando o guaiamum: Na estrada de Ilhéus-Itacaré, no distrito da Juerana, existe um bar debruçado sobre o rio Almada, especialista em camarão ao bafo e alho e óleo e, principalmente, em rubaletes fritos. Chegando lá é só perguntar: “onde é Maria do rio?” que todo mundo sorrindo responde prontamente. Além da mesa de sinuca, o espaço é enorme. As mesas ficam embaixo das árvores e Maria, sempre eficiente, sabe fazer gostoso.

- Sábado sim: A casa dos artistas, ambiente de vanguarda desde a década de 1980, sempre movimentou o cenário cultural ilheense. O grande ator, Pedro Matos, foi quem criou e estimulou o ambiente para que a cena artística da região se consolidasse cada vez mais. Hoje, a Casa dos Artistas, além de abrigar o Teatro Popular de Ilhéus e oferecer inúmeras peças de altíssima qualidade, também apresenta shows de bandas locais. O projeto, por ocorrer quinzenalmente, é chamado de Sábado Sim.

Grapiúna: nome dado pelos sertanejos aos habitantes do litoral.

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