quarta-feira, 15 de agosto de 2012

O Rebucetê Entrevista: Rogério Big Bross

Por Ana Paula Marques


Big Bross/ Foto: Arquivo Pessoal

Sábado (11/08), a programação do Rock Cordel se estendeu um pouco além dos shows no palco da Praça Barão do Rio Branco. Um bate-papo descontraído reuniu, no Viela Sebo-Café, músicos, jornalistas e pessoas interessadas em conhecer um pouco mais sobre o ramo da distribuição independente. A conversa foi mediada por Rogério Big Bross, soteropolitano, produtor do Festival Big Bands, DJ por diversão e responsável pelo selo Big Bross Records.

Big, como é conhecido pelos mais íntimos, trabalha há 20 anos no cenário alternativo de Salvador. O produtor, que também já foi músico, foi responsável pelos lançamentos de bandas como Retrofoguetes, Pastel de Miolos, Ronei Jorge, The Honkers, Lou e Tritor. Com sua banquinha e sua mochila, levou sons alternativos baianos para os principais festivais do Brasil, como Porão do Rock (Brasília) e Abril Pro Rock (Recife). Das permutas musicais, veio a sacada de transformar a distribuidora no selo Big Bross Records que é, ainda hoje, totalmente informal. Atualmente, Big também integra o Coletivo Quina Cultural, vinculado ao Circuito Fora do Eixo, ao lado da produtora Cássia Cardoso. Através do Circuito, ele mantém seus discos circulando por vários estados brasileiros.


Durante o bate papo Big citou, dentre outros assuntos, o selo colaborativo, o grande potencial da distribuição, a pirataria e até a evolução da cena underground de Vitória da Conquista, com sua forte circulação de artistas de grande e pequeno porte que a cidade possui atualmente, através de eventos como as Noites Fora do Eixo e o Festival Suíça Bahiana. Ao final da conversa, Big nos respondeu algumas perguntas, se liguem:

O Rebucetê - Sobre sua trajetória na banquinha: o que você nota de diferente desde que começou? Atualmente está mais fácil trabalhar com o selo?

Rogério Big Bross - Nunca foi fácil. A verdade é que a banquinha durante a metade dos anos 90, era uma época que ela me sustentava. Valia a pena, pois a pirataria não tinha chegado com força. Era muito comum banquinha em festival, acabar a apresentação da banda e correr 30 pessoas pra comprar CD. Isso foi mudando tanto com a banquinha quanto com o selo, ao decorrer do tempo. Com o tempo, as banquinhas foram vendo que só os cds não sustentavam mais. Hoje na banquinha eu tenho CD, revista, livro, botton, camisa, todo o material de merchandising, é uma lojinha. Com o selo, o que mudou muito foi justamente isso, peguei a época que o selo pegava uma banda do zero e produzia realmente tudo, investia naquela banda. Com o crescimento da pirataria isso se tornou inviável porque esse dinheiro já não voltava com a prensagem dos CDs, mas o selo continuou forte.

Então, esses artistas ainda têm interesse de lançar pelo selo. Comecei a receber muitas propostas de bandas que eu gosto. Se um artista lança pela Big Bross, ele sabe que o CD dele não vai parar na mão de qualquer um. O selo hoje é praticamente mochila nas costas, em que tenho sempre dois títulos de cada. Até em Salvador mesmo, tô sempre levando um CD.

Banquinha eu monto até hoje. O que aprendi foi destrincha-la. Às vezes eu boto banquinha em três shows ao mesmo tempo. Eu dou uma furada na falta de lojas de CDs, pois hoje CD só se for em loja de departamento. Você não tem mais loja de bairro, você não tem mais loja alternativa de CD. Mas eu consigo furar isso, em Salvador, com um ponto físico em estúdio de tatuagem, bares, sebo de livro e sebo de vinil.

OR - Na sua opinião, quais são os principais benefícios para as bandas que se inserem nesse novo modelo de circulação?

RBB - Costumo falar sempre que o artista que não circula não forma público ou então não contrata. Os artistas têm que entender o seguinte: se ele vai pela primeira vez numa cidade em que ninguém conhece ele, ele não pode gerar renda com o produtor. Então, se ele tem um custo da viagem, da alimentação, da carga e da passagem, o produtor que tá fazendo o show tem todo um outro custo. Tem que pagar som, segurança, então pra um artista novo circular, ele tem que entender a coisa básica da troca. E isso tem que ficar claro, o cara tem que se jogar e aproveitar cada oportunidade, cada gancho. Isso é uma maneira de sustentar a própria carreira. Artistas como Autoramas são caras que hoje não estão ricos, mas não estão pobres, eles vivem de música. A Móveis Coloniais de Acaju é um grande exemplo a ser seguido por todas as bandas. Pouca gente sabe, mas cada membro do Móveis não tem só a função de ser músico. Um músico cuida da manutenção do equipamento, outro cuida de providenciar merchan, outro cuida de fechar shows, uma parte da equipe fica na banquinha, então cara, o artista hoje, mais do que nunca, tem que ser o bilheteiro, o divulgador, o panfleteiro. Ele tem que fazer tudo dentro da produção da própria banda. Não existe mais o sonho do contrato com uma grande gravadora. As coisas mudaram bastante nesses últimos 10 anos. O grande ponto prejudicial da pirataria, que foi acabar de certa forma com o mercado dominante, eu vejo o lado positivo que é justamente que os artistas hoje estão muito mais livres, fazendo o que querem. Isso é a coisa mais legal que está acontecendo hoje, tanto pra artistas novos, quanto pra circular. A galera tá se jogando muito mais, a galera nova tá entendendo isso muito mais. E quem não compreende isso, tá ficando literalmente pra trás.

OR - Durante a conversa você citou a Distro Fora do Eixo e o selo colaborativo. Como funciona essa nova proposta?

Banquinha Fora do Eixo/
Foto: Arquivo Pessoal
RBB - O selo colaborativo na verdade é uma ideia que tá encaminhando, andou bem no último Congresso Fora do Eixo em São Paulo e a gente vem conversando com as listas, como vai funcionar e como vai ser esse trabalho de selo colaborativo.
Há uma proposta inicial de fazer um lançamento conjunto com alguns artistas. Mas a ideia básica do selo colaborativo, é catalogar, reunir todos os selos de grande e pequeno porte no Brasil e do mundo, pra que possibilite a facilidade de distribuição do CD de um artista. Por exemplo, se um artista vai entrar em turnê pelo nordeste, vai fazer 12 cidades, dentro dessas 12 cidades têm 5 selos, nesse percurso: que esses 5 selos possam se juntar e fazer uma prensagem desse artista para que facilite a distribuição.

Fui procurado há um tempo atrás pelo Arthur Pessoa, do Cabruêra, com a proposta de relançar os trabalhos antigos da banda (que são deles e não de gravadora), e surgiu a possibilidade de ter um lançamento do Cabruêra pelo selo colaborativo. Ele já vem com outra proposta que a gente não tinha pensado ainda, de sair em selos de cidades que o Cabruêra não conseguiu atingir. Pra gente é interessante atingir cidades que a gente não atinge facilmente.
O selo colaborativo é uma maneira fácil e econômica pra banda. E quando eu falo a nível de mundo, tem o exemplo da Monster Coyote, uma banda de São Paulo, que na turnê que eles fizeram pelo Nordeste há 1 ano e pouco, foram seis selos: a Brechó (de Salvador), a Popfuzz (de Maceió), mais dois que eu não lembro, um em Porto Alegre e outro em São Paulo, mas eles lançaram também na Suécia. Para eles, ter CD físico distribuído desse jeito é uma economia sensacional pra banda, de trabalho e tudo. Pro próprio selo colaborativo, ele tem um CD a preço de custo, pra poder vender mais barato, chegar mais barato na mão do público, você lima aí o frete, imposto e um bocado de coisa, com cada um cuidando de uma pequena prensagem disso.

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