quinta-feira, 19 de julho de 2012

"Nosso tempo agora é de colheita"

Por Ana Paula Marques

Edmilson do Ilê/ Foto: Rafael Flores
No início da tarde dessa terça - feira (17), participamos de um ponto de debate sobre sustentabilidade e cultura popular. O debate foi ministrado pelo diretor e coordenador pedagógico do Ilê Aiyê, Edmilson Lopes e o coordenador da ONG Instituto Cooperazione Economica Internazionale, Diego Di Niglio, que falaram sobre suas experiências com a economia criativa em suas respectivas associações. No auditório esvaziado, estavam presentes apenas o mediador, dois apoios, o Mestre Juarez do Côco de Senzala e eu e Rafa. O debate começou com uma hora de atraso. Quem iniciou a fala foi Edmilson, o qual empolgado com o nosso interesse, contou sobre os diferentes projetos que estão inseridos na comunidade da Liberdade que sedia o Ilê Aiyê.

O Ilê surgiu em meados dos anos 70 e marcou a reafricanização do Carnaval da Bahia e a luta contra a opressão e o racismo no estado da Bahia. O bloco é atualmente uma das maiores referências étnica cultural e religiosa no Brasil. Em sua organização, além de manter viva a tradição carnavalesca, o Ilê promove no bairro da Liberdade diversos trabalhos socioculturais que envolvem desde crianças à idosos.

Tudo começou a partir da criação de uma escola pela matriarca Mãe Ilda, mãe de Vovô do Ilê, um dos fundadores da associação, passando pela criação de cursos profissionalizantes e o oferecimento de atividades de contra turno como dança, canto, informática, percussão, entre outras. Hoje, a escola do Ilê conta com um sistema de redes relacionadas e é totalmente sustentada pela associação, a qual fornece todo material escolar, além da alimentação oferecida através do projeto Mesa Brasil. Sua grade curricular reforça a história afro brasileira, apropriando-se do conteúdo e preparando os alunos para defender sua cultura e suas raízes. O Ilê também fornece cursos de inglês, espanhol e libras, possui um trabalho ostensivo de combate às drogas e reforça a qualidade de vida para idosos, garantindo atividades também para eles.

A geração de renda através da reciclagem e do reaproveitamento das roupas utilizadas durante o Carnaval fica por conta da confecção de materiais como bolsas, camisas, bermudas, entre outros, agregando a marca do Ilê. Os materiais são vendidos em diversos pontos da cidade, como no aeroporto e em shoppings e seu lucro é dividido entre as pessoas que ajudaram na produção.

O Ilê possui diversos pontos de cultura no exterior e parcerias com universidades e organizações que garantem bolsas de projetos de extensão e fomento à educação. Atividades de intercâmbio cultural permitem que os jovens possam conhecer e entrar em contato com a cultura de ambas as partes. Vários meninos e meninas do Ilê residem hoje no exterior graças a esses projetos.


Em uma das falas apresentadas em um vídeo exposto por Edmilson, uma das coordenadoras da associação diz que o embate para a afirmação da cultura afro-brasileira já teve o seu tempo. No entanto, infelizmente uma questão que tem sido bastante discutida por aqui em Garanhuns e nas redes sociais é a tolerância religiosa. Isso se deve a um episódio ocorrido recentemente em Olinda, onde uma comunidade evangélica tentou invadir um terreiro de candomblé. Tal fato também tem mobilizado muitos artistas pernambucanos, como a cantora e percussionista Alessandra Leão, que se apresentou ontem (18) no Palco Pop e lembrou também o dia do aniversário de Nelson Mandela:

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