sábado, 21 de julho de 2012

"Então essa é a peleja pela comunicação"

Por Rafael Flores

Inamara Melo/ Foto: Rafael Flores
Realmente o dia 19 de julho não foi um dia qualquer para os militantes da área de comunicação, como escreveu Mariana Kaoos. Enquanto estudantes de todas as regiões do país, participavam do Encontro Nacional dos Estudantes de Comunicação e se aglomeravam para levantar a voz em prol de um modelo de comunicação mais democrática, ocorria em Garanhuns um debate sobre Comunicação Pública. O espaço foi promovido pela TV Pernambuco, em parceria com o Fórum Pernambucano de Comunicação (Fopecom) e a Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe).

Um público de vinte pessoas compareceu ao auditório Manoel Elpídio Melo na Autarquia de Ensino Superior de Garanhuns (Aesga) para se atualizar sobre as discussões sobre a produção pública de comunicação no Brasil e formatar proposições para ela. Segundo Inamara Melo, o espaço funcionou como uma prévia da Audiência Pública sobre Comunicação Pública que acontecerá na cidade do Recife, na próxima quarta-feira (25), promovida pela Empresa Brasileira de Comunicação (EBC).

Paulo Vitor/ Foto: Rafael Flores
Paulo Vitor, representante do coletivo Intervozes, iniciou as explanações com um apanhado geral da conjuntura da comunicação no Brasil e citou o ato público dos estudantes em Brasília, o qual deveria estar começando naquele instante. Paulo pontuou necessidade de se discutir a comunicação está a cada dia se inserindo mais nos movimentos sociais, isto por conta da não representação destes dentro do que vem sendo transmitido nos veículos das grandes empresas midiáticas. O sergipano, chamado por todos de PV, anunciou ainda o início da Campanha pela Liberdade de Expressão no dia 27 de agosto, data em que o Código Brasileiro de Telecomunicação (CBT). “A gente tem que fazer uma reflexão junto com as pessoas que se indentificam nas novelas, que acham que os grandes veículos cumprem um papel social, por isso a campanha, para popularizar a discussão sobre esse conceito, que não é sobre apenas falar o que quer, mas ter responsabilidade sobre o que é dito”, explicou. A campanha é encabeçada pelo Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC) e outras entidades civis.

A segunda a falar foi Renata Mielli, secretária geral do Centro de Estudos de Mídia Barão de Itararé. Para ela a comunicação não é percebida como direito e sim apenas como um serviço. “Difícil fazer entender que assim como a população tem direito a um serviço de saúde público e de qualidade, também tem o direito a uma comunicação da mesma forma”, afirmou. Renata reflete que a comunicação sempre foi dialógica, uma via de mão dupla e que a criação de veículos alternativos na web abre um pouco os olhos para esta discussão, pois possibilita a vocalização de outro lado dos fatos ou de até mesmo outros fatos. Por fim, ela volta a jogar a problemática citada por PV, sobre como fazer a sociedade perceber que a mídia comercial não se interessa em representá-la nem em dar a voz e então reafirma a importância da campanha pela Liberdade de Expressão.

Guilherme Strozy/ Foto: Rafael Flores
Um ponto interessante do espaço de discussão foi a presença de instâncias públicas, que produzem comunicação e vem pensando em formatos e maneiras de aproximar a sociedade disto.  Guilherme Strozy, representante dos funcionários da Empresa Brasileira de Comunicação no seu conselho curador, fez um panorama da programação pública de televisão no Brasil e apresentou alguns modelos interessantes, como o jornalismo colaborativo do quadro Outro Outro Olhar, que vai ao ar diariamente no telejornal Repórter Brasil, às 21 horas na TV Brasil. Consiste em apresentar as visões noticiosas vindas de produtores independentes, pontos de cultura, cooperativas, cidadãos não organizados, grupos e movimentos sociais. A presença de Guilherme também proporcionou uma discussão acerca da criação da Empresa Pernambuco de Comunicação e o debate acabou se tornando deliberativo. Decidiu-se que os presentes interessados redigiriam um documento pedindo tal implantação para ser lido na audiência do próximo dia 25, em Recife. Sendo assim, o conselheiro, como representante da sociedade civil apoiará a ação.

Renata Mielli e Ivan Moraes/ Foto: Rafael Flores
"Não sei se tu já pensasse/ ligando a televisão/Num dia desse qualquer/ xingando a programação/ Sentado no seu sofá/ Numa preguiça do cão/ Porque tudo é tão igual? Como as pessoas não são/ Sempre o mesmo sotaque/ é quem dá a informação/ E se alguém fala ‘oxente’/ pode ver que é gozação". Foi com os versos de seu "Cordel da regulamentação da comunicação" que o jornalista e representante do Fopecom Ivan Moraes Filho iniciou seu discurso. Dialogando e fortalecendo o que já fora dito, Ivan aproximou a discussão para o acesso à produção de conteúdos midáticos. E para quem não estava tão ligado às diferenças entre os veículos comerciais, públicos e estatais, Ivan esclareceu: “Na rede privada quem manda é o dono, quem faz é o funcionário e quem paga é a publicidade. Na estatal, quem manda é a atual gestão, quem faz são funcionário públicos concursados e quem paga é o Estado. Já na Comunicação Pública, quem faz, paga e manda, somos nós!”.

A falta de diálogo dos poderes Executivo e Legislativo no que se refere a essas pautas foi um dos pontos tocados por todos os convidados. Na última semana o Congresso Nacional reativou o Conselho Nacional de Comunicação (ativo entre os anos 2001 e 2006) sem nenhuma consulta a sociedade civil e sem nenhuma representação popular em tal fórum.  O FNDC emitiu uma nota, segundo a qual a criação do Conselho de Comunicação, que está prevista na Constituição Federal de 1988, foi fruto da luta política de diversos segmentos sociais e da articulação da sociedade com o Parlamento, fato que não se repetiu agora quanto a composição do Conselho. 

O ato de fazer e pensar a Comunicação é um direito humano e deve ser garantido. Já que os veículos comerciais não se preocupam com a pluralidade de informação que o Brasil demanda, que pelo menos os públicos o façam. Os conselhos estaduais de comunicação,em funcionamento na Bahia e no Ceará e em processo de implantação em outros estados representam um dos mecanismos de aproximar a sociedade da produção midiática. Também temos que prestar muita atenção no argumento utilizado pelos empresariado da área para preservar seu oligopólio, como a máxima da Liberdade de Expressão. Eles acusam que regular o conteúdo que chega a milhões de brasileiros é uma afronta a tal liberdade. Mas liberdade de expressão para quem, cara pálida? A campanha que será lançada em agosto propõe debater justamente esta correlação de forças, entra quem possui o poder da fala (grandes empresas) e quem deve ter (a população)

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